domingo, 20 de julho de 2008

Ilha na Itália dá pista sobre futuro ácido dos oceanos

da Folha de S.Paulo

Adeus corais e ouriços-do-mar. Olá algas verdes e espécies invasoras. A julgar por um ecossistema marinho estudado na Itália, esse pode ser o retrato dos oceanos do planeta num futuro próximo, quando o excesso de gás carbônico tiver tornado o mar mais ácido.

A afirmação é de um grupo de oceanógrafos europeus, que descreveu as mudanças na fauna e na flora marinhas em águas cuja acidez local se assemelha à que os cientistas projetam para os mares do mundo todo no final deste século.

Eles estudaram uma comunidade na costa da ilha de Ischia, no mar Mediterrâneo. Ali, chaminés vulcânicas submarinas cospem CO2 e outros gases o tempo todo, tornando o pH mais baixo -ou seja, deixando a água mais ácida.

O que o grupo viu foi um rearranjo do ecossistema, com a morte dos corais. O quadro é consistente com o que cientistas têm projetado nos últimos anos, desde que o problema da acidificação foi descoberto.

Despindo a carapaça

A acidificação dos oceanos é um dos efeitos mais temidos do aquecimento global. Ela não tem a ver diretamente com a elevação da temperatura, mas mesmo assim estima-se que possa causar um impacto enorme na vida marinha.

Os oceanos são a principal "esponja" do CO2 em excesso emitido por atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis. Na água, o gás carbônico forma ácido carbônico. Este, por sua vez, dissolve o carbonato de cálcio, matéria-prima dos esqueletos dos corais, das conchas dos moluscos e das carapaças dos microrganismos do fitoplâncton.

Além de ameaçar a vida de milhares de espécies calcificadoras, a acidificação tem um outro aspecto negativo: as carapaças calcárias dos organismos marinhos são um mecanismo vital de "seqüestro" de carbono, já que se depositam no fundo do mar quando essas criaturas morrem, formando rocha calcária. Sem esse "seqüestro", a capacidade do mar de absorver CO2 fica comprometida --e o mundo pode ficar ainda mais quente.

Por mais consistente que seja essa teoria, ela nunca fora observada em grande escala antes. "Os estudos anteriores foram em pequena escala, de curto prazo e de laboratório, então tem sido muito difícil prever os efeitos do aumento das emissões de CO2 sobre a vida marinha", disse Jason Hall-Spencer, da Universidade de Plymouth (Reino Unido), autor principal do estudo.

"Nós mostramos como comunidades marinhas inteiras mudam devido aos efeitos de longo prazo da acidificação."

Medições realizadas por Hall-Spencer e seu grupo em águas mais próximas das chaminés, cujo pH era de 7,8 ou 7,9, mostraram uma redução de 30% no número de espécies em comparação com ambientes semelhantes de pH normal (8,1 a 8,2). Com o sumiço dos corais, as algas verdes tomaram conta do ecossistema.

"Eu temo muito que [as algas] mudem radicalmente os habitats marinhos rasos ao redor do planeta", disse o britânico. O estudo foi publicado on-line na revista "Nature".

FONTE: www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u410360.shtml

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